Na escuridão daquele quarto encontrava-se um pequeno rapaz escondido no canto. As paredes eram pintadas de encarnado e encontravam-se cobertas com fotos e desenhos macabros. Fotos de momentos negros da vida daquele rapaz e desenhos de medos com os quais ele nem se atrevia a sonhar. Pelo chão via-se espalhado estilhaços do espelho que ele acabara de partir revoltado com a imagem que lá via, naquele e em todos os espelhos vive alguém que não é ele, alguém que não é prefeito, alguém que tem mais pecados que virtudes. No tecto alguém tinha pintado olhos. Estes observavam-no com desprezo e repugnância. No centro havia dois que se destacavam dos outros, estes olhavam-lhe com desilusão. E estes eram os que lhe mais magoavam. O rapaz tremia como se de frio tratasse, mas era o medo que o possuía. Com tantas coisas para o atormentarem naquele quarto. O que o fazia realmente suar, tremer, respirar intensamente, fechar os olhos com força, abraçar-se a ele próprio era o medo de si próprio. Aquele rapaz temia não vir a ser o homem que tanto ele como a família e amigos esperam que fosse.
Embora nunca tivesse ainda estado naquele quarto sabia da sua existência. Ele sabia que um dia a sua arrogância teria fim e que teria de assumir o fracasso de ser humano que era. Um fracasso que em nada conseguia ser bom, apenas era bom a ser hipócrita, a sorrir, a saber disfarçar o que lhe vai na cabeça, a não ser honesto. Em tudo o resto era simplesmente um aborto. Mesmo assim vivia como se fosse um enorme deus, como se fosse rei do próprio Olimpo e do seu próprio destino. Aquele quarto sugava-o como um marinheiro é desejado pelo mar. Mas sempre que a sua força fracassava e se aproximava da porta infernal que nunca desistiu de o apanhar, alguém o agarrava: família, amigos, ás vezes até desconhecidos acidentalmente.
Apesar de todos esses esforços das pessoas que o acarinhavam, o triste e horroroso rapaz tinha traído todas as pessoas que nele tinham confiado. Tantas pessoas a acreditar que ele seria capaz de se tornar naquele deus que tanto queria, e no fim é ele que deixa de acreditar, é ele que sucumbe ao quarto destinado há tanto tempo. E assim fica sentado á espera, sabe lá ele do quê. De um amigo que não virá, de alguém que pouco interessado acidentalmente puxa-o. Mas qual a finalidade disso? Ele voltar para lá… Apenas ele pode ter força e sair de lá e nunca mais voltar.
Embora ele saiba que talvez pudesse conseguir, cada momento que passa mais se entrega ao quarto e menos acredita em si e na sua força. O tempo passa e passa até que por fim perde a sua alma, e nesse momento tudo se acaba. E assim, na escuridão daquele quarto surge outro homem, sem vontade de quebrar o destino, sem vontade de ser melhor.

3 comentários:
Penso que deves pensar ao contrário!
Tornas-te homem quando lutares com o impossível e sonhares com a realidade que queres que te aconteça. E vai funcionar, juro... experimenta! apc
Já há imenso tempo que não vinha ver o teu blog...hoje decidi vir espreitar e deparei-me com este texto. Não sei porque mas gostei mesmo muito. talvez porque de certa forma consigo identificar-me com o rapaz. Queria só dizer uma coisa..às vezes esse quarto não existe...às vezes nós é que o imaginamos...
não sei se o k eu disse faz algum sentido...mas pronto
beijinhos
Quero tanto poder fazer te feliz... sei que não olhas para mim dessa maneira, pensas que eu ja nao sinto nada por ti...
Mas sinceramente quero-te....
adrt valter
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