Algures!

Algures, perdido num sonho que não é meu, encontro algo que reconheço. Mas não sou capaz de entender o que é, e porque me diz tanto. É uma rapariga que me olha de longe com um ar de pena, como se olhasse para alguém que ama. Mas eu não a conheço.

Quando finalmente olho em volta, percebo que estou num hospital, mas estranhamente não sei onde fica este hospital. Comecei a tentar lembrar-me de alguma coisa, mas nada me veio á mente. Nada! Continuava á procura, quando finalmente lembro-me de algo, lembro-me de estar no campo, rodeado girassóis mais altos que eu, estava com medo de algo. Mas não sei do quê.

Não percebia o que fazia ali, o que tinha acontecido para ali estar. Do nada, aprece um homem magro e franzido, com um enorme bigode na cara e com uns olhos pretos da cor da noite. Pelo estetoscópio que trazia com orgulho ao pescoço, logo percebi que devia ser médico. Vinha com aquela cara que eu bem conhecia, aquela que diz: “Que digo?” Adiantei-me, e cumprimentei-o com um sorriso. Quando percebeu que eu não estava assustado perguntou-me o nome e a idade. Perguntas que achei inúteis, pois ele já devia saber. Mesmo assim, respondi com naturalidade. Depois explicou-me que eu tinha sofrido um pequeno acidente de carro. Apressei-me em saber se quem ia comigo no carro estava bem. Com uma imensa calma respondeu-me que os meus pais tinham apenas ficado com uns arranhões, a minha irmã tinha sofrido um traumatismo mas de momento estava bem, e eu tinha batido com a cabeça e perdido alguma memória recente. Depois disse que ia chamar a minha família. Antes de se ir embora, perguntei se conhecia aquela rapariga de algum lado. Ficou perplexo pelo facto de eu não a conhecer. Disse que não tinha a certeza de quem era, só sabia que lá ia todos os dias perguntar por mim.

Quando todos apareceram ao fundo do corredor, lancharam um enorme olhar de felicidade. Depois foi só abraços e uma grande festa á minha volta, como se eu tivesse feito algo importante. Pedi-lhes que saíssem, precisava de descansar mais. Mas antes de descansar precisava de saber quem era, pedi ao médico que a chamasse.

Vi correrem lágrimas no rosto. Andou devagar na minha direcção, como se não quisesse vir por saber que não ia gostar. Quando entrou, tentou fazer um tímido sorriso. Depois disse:
-Não me conheces, pois não?
Com muita pena, por saber que a ia magoar, assenti com a cabeça. Ela agarrou-se á minha mão, como se a conhecesse desde sempre, atirou mais um olhar. E suplicou:
-Lembra-te de mim…. - Ao mesmo tempo aproximou-se de mim e beijou-me.
Comecei a recordar imensas coisas, aquele olhar já não me era indiferente, aquela mão já não me era desconhecida, aquela boca já tinha conhecido. Quando voltou a olhar para mim, simplesmente respondi-lhe:

-P.S.: Amo-te