8 de agosto de 2009

Amor Flamejante (8º episódio)


O velho, depois de ter mandado os pequeninos para a cama, não era capaz de dormir e decidiu ir sentar-se na sua cadeira. Uns minutos depois aparecem as duas crianças dizendo que não eram capazes de dormir, e pediram que o avô lhes contasse mais um pouco da história. O avô que também não conseguia dormir disse que iria contar melhor o que aconteceu no passeio, e começou:
Joseph quando lá chegou recebeu um recado de um amigo seu, chamado Martins, dizendo o seguinte: Joseph, só quero que saibas que ando a passar um bocado mau devido a problemas de saias, logo não tive disposição para ir. Aproveita o passeio e vê se encontras o famoso e lendário unicórnio Avi (nome do reino onde estava) mas acima de tudo, vê se te encontras a ti. Cumprimentos do teu fiel amigo Martins.
Depois de ler a carta, o que se esperava era que Joseph não tirasse o unicórnio da cabeça, mas o que aconteceu não foi isso. Os olhos dele estavam tão agarrados a outros que ele não queria saber do resto. Depois de andarem bastante pelo bosque, encontraram um lugar indescritivelmente mágico. Tinha um lago lindo, calmo, solitário mas com tanta vida nele. Haviam peixes, patos, cisnes até mesmo tartarugas. Numa parte mais estreita do lago havia uma pequena ponte. Aquele sítio tinha que ser mágico, as árvores dançavam com o vento, ao ritmo da música cantada pelos pássaros que voavam pelo céu azul e límpido. Joseph tinha ficado tão pasmado a ver e tentar decorar tal beleza, que sem se aperceber afastou-se de Maria, que tinha ficado a pintar aquela paisagem única. Enquanto Joseph caminhava entre as árvores perto do lago, ia-se lembrando de momentos da sua vida e aprendizagem. Lembrou-se da primeira vez que chorou por alguém, que fez um amigo, que construiu algo com as suas próprias mãos, que teve uma verdadeira aventura, que foi picado por uma vespa, que fugiu de uma vaca, que disse: “Estou onde quero estar, com quero estar”. Esta última tinha sido ali, naquele mesmo momento.
Foi continuando andar sem rumo, apenas observando, até que simplesmente parou. Estava em cima da ponte, parado, sem pensar, apenas a ver o seu reflexo na água. Depois começou a perguntar-se se conhecia aquele rapaz que via na água, depois de uns momentos sem resposta, disse: “Não”. Joseph sempre tinha pensado que era uma determinada pessoa, uma pessoa sem força para lutar pelos seus desejos, que não conseguia opor-se á maré que o empurrava. Mas ali estava ele, a lutar por um desejo, um objectivo, um Sonho. Já não se conhecia, mas sabia que, quem quer que fosse agora, é bem melhor.
Quando voltou a si, longe destes pensamentos, olhou para a frente, como á procura de um rumo, de um caminho, e como sempre encontrou o olhar escuro que respondeu às perguntas que tinha. E ali ficou, parado, a ver.
Enquanto isto se passava com Joseph, Maria que tinha estado a pintar, ia observando-o de longe, sem que ele reparasse. E quando ele parou na ponte, simplesmente pintou-o olhando para ela, e assim pode ficar com aquele olhar tão meigo para sempre. Mesmo sem ainda saber o que sentia, sem saber o que ele sentia, simplesmente pintou-o, o resto não interessa.
Mas Maria não tinha sido a única a pintar aquele momento, Joseph também o pintou, mas não num papel ou numa tela. Ele pintou aquele mágico momento no seu coração.


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