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Blog muito bom!!! Comentem!!!
Na escuridão daquele quarto encontrava-se um pequeno rapaz escondido no canto. As paredes eram pintadas de encarnado e encontravam-se cobertas com fotos e desenhos macabros. Fotos de momentos negros da vida daquele rapaz e desenhos de medos com os quais ele nem se atrevia a sonhar. Pelo chão via-se espalhado estilhaços do espelho que ele acabara de partir revoltado com a imagem que lá via, naquele e em todos os espelhos vive alguém que não é ele, alguém que não é prefeito, alguém que tem mais pecados que virtudes. No tecto alguém tinha pintado olhos. Estes observavam-no com desprezo e repugnância. No centro havia dois que se destacavam dos outros, estes olhavam-lhe com desilusão. E estes eram os que lhe mais magoavam. O rapaz tremia como se de frio tratasse, mas era o medo que o possuía. Com tantas coisas para o atormentarem naquele quarto. O que o fazia realmente suar, tremer, respirar intensamente, fechar os olhos com força, abraçar-se a ele próprio era o medo de si próprio. Aquele rapaz temia não vir a ser o homem que tanto ele como a família e amigos esperam que fosse.
Embora nunca tivesse ainda estado naquele quarto sabia da sua existência. Ele sabia que um dia a sua arrogância teria fim e que teria de assumir o fracasso de ser humano que era. Um fracasso que em nada conseguia ser bom, apenas era bom a ser hipócrita, a sorrir, a saber disfarçar o que lhe vai na cabeça, a não ser honesto. Em tudo o resto era simplesmente um aborto. Mesmo assim vivia como se fosse um enorme deus, como se fosse rei do próprio Olimpo e do seu próprio destino. Aquele quarto sugava-o como um marinheiro é desejado pelo mar. Mas sempre que a sua força fracassava e se aproximava da porta infernal que nunca desistiu de o apanhar, alguém o agarrava: família, amigos, ás vezes até desconhecidos acidentalmente.
Apesar de todos esses esforços das pessoas que o acarinhavam, o triste e horroroso rapaz tinha traído todas as pessoas que nele tinham confiado. Tantas pessoas a acreditar que ele seria capaz de se tornar naquele deus que tanto queria, e no fim é ele que deixa de acreditar, é ele que sucumbe ao quarto destinado há tanto tempo. E assim fica sentado á espera, sabe lá ele do quê. De um amigo que não virá, de alguém que pouco interessado acidentalmente puxa-o. Mas qual a finalidade disso? Ele voltar para lá… Apenas ele pode ter força e sair de lá e nunca mais voltar.
Embora ele saiba que talvez pudesse conseguir, cada momento que passa mais se entrega ao quarto e menos acredita em si e na sua força. O tempo passa e passa até que por fim perde a sua alma, e nesse momento tudo se acaba. E assim, na escuridão daquele quarto surge outro homem, sem vontade de quebrar o destino, sem vontade de ser melhor.
Um rapaz caminha sozinho pelas ruas escuras de Lisboa. Por cada beco que passa ouve um ruído diferente, um cheiro novo. De uma janela sente o cheiro de algo que parecia tão delicioso, de outra ouve gritos de um casal em mais uma discussão. Entre o lixo espalhado pelo chão ouve algo mexer-se, um gato talvez. Olha para aquela longa rua como se fosse o seu destino. Havia transversais, haviam outras escolhas, mas a mais fácil era ir a direito, era deixar que o destino o levasse. Foi isso que ele fez.
Assim, chegou ao fim daquela antiga rua de calçada. Mas agora havia um cruzamento, para que lado havia ele de ir. Estava na altura de ser ele a decidir, estava na altura de dar uma pequena ajuda ao destino. E foi então que ouviu uma música… vinha de um velho prédio à sua esquerda. Aquela música tinha feito o ritmo do seu coração mudar. Avançou então nessa direcção, e logo que deu o primeiro passo o destino fechou o outro caminho. E, naquele momento, ficou escrito tudo o que vos vou contar.
E agora? Estava à frente do prédio. Entrava por ali a dentro? Enquanto se questionava reparou numa luz que fugia do prédio por um pequeno buraco. Noutra altura não teria espreitado, mas ele estava tão desesperado…. Era um antigo salão de dança. Havia um espelho, as luzes eram alaranjadas, o chão muito brilhante. Uma senhora bastante velha ensinava jovens raparigas a dançar. Achou a dança engraçada mas como não se interessava muito por artes (como a maioria dos homens) ia voltar para casa… Mesmo antes de se virar viu uma rapariga entrar dizendo “Desculpe o atraso Sra. Antonieta”. Ela começou a dançar de costas para ele, mas quando se virou e ele pode finalmente vê-la. O destino gritou bem alto: “Vês!! É o teu destino!” Nunca se esqueceria daquele momento. Ela sorria de uma maneira que quando parava parecia que a sala perdia o brilho. Os seus olhos lindíssimos hipnotizaram-no de tal maneira que ali ficou durante horas a ver. Como não sabia o nome dela, chamou-lhe: “Princesa dos olhos de cristal”. No dia seguinte voltou a lá ir vê-la, e no outro e no outro…..
Uma jovem rapariga andava a vaguear pela praça quando ouviu uma voz que a chamava. Quando se virou viu um rapaz falando com uma rapariga, que pelo que percebeu tinha o mesmo nome que ela. Ela não sabia explicar mas aquele rapaz tinha algo de especial…. Algo que a fazia sorrir o resto do dia. Ela tinha treinos de dança. E todos os dias treinava muito sorridente pois era como se estivesse a dançar com ele, como se ele estivesse ali com ela.
Os dois não sabiam. Mas o brincalhão destino já tinha escrito que aqueles dois teriam um dia a sua própria história. Mesmo sem se conhecerem os dois estavam apaixonados. Os dois não eram capazes de passar um dia sem ver o outro. E durante semanas isto continuou… o destino ria e ria….
Aquele rapaz tão apaixonado, deu por si naquela rua onde tudo tinha começado. Onde o seu destino tinha sido decidido. Andava em frente e olhava para a calçada, como se soubesse o caminho de cor. E foi então que a “princesa dos olhos de cristal”, atrasada como de costume, chocou contra ele. Os dois ficaram a olhar um para o outro. Era a primeira vez que os dois cruzavam um olhar entre si. Ela disse: “Olá. Sou a….” Ele interrompeu-a e disse: “Eu conheço-te.”.
Então onde o destino escreveu foi onde tudo aconteceu. Naquela antiga rua que viu nascer mais uma história que tanto é de amor, como é um conto de fadas.
p.s.: dedicada a verdadeira princesa de olhos de cristal